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As Crianças e o seu Universo Emocional

2 de Junho de 2023
Postado por FamiliaComDireitos

A Inteligência Emocional é a chave que abre portas à resiliência e que permite que uma criança percorra caminhos de descoberta, para crescer mais confiante e feliz, mesmo no seio de eventos de vida, por vezes, desafiantes.

 

- Como te sentes?

- Bem. Normal. Mais ou menos.

Este é o reduzido léxico emocional de muitas das crianças e adolescentes que conheço.

 

A Inteligência Emocional constitui uma importante dimensão a que devemos dar atenção na educação de uma criança, uma vez que as emoções desempenham um papel essencial no nosso comportamento, nas nossas escolhas e nas nossas reações.

Para ajudar uma criança a crescer confiante, feliz e resiliente, é muito importante, desde cedo, promover o desenvolvimento de ferramentas para que consiga identificar e nomear emoções que verifica em si e nos outros, para expressar as suas emoções de forma adequada e, também, fornecer-lhes estratégias para regular as suas emoções.

O uso eficaz das emoções permite que a criança ganhe maior controlo sobre situações desafiantes, aprenda a comunicar sobre os seus estados emocionais, expresse necessidades, desenvolva relações saudáveis com a família e os amigos e alcance maior satisfação na escola, no trabalho e na vida.

 

Crescer num contexto de confiança, onde há espaço, tempo e recetividade para se conversar sobre emoções, permite que as crianças e os adolescentes desenvolvam uma relação adequada com esta dimensão das suas vidas, incentivando-os a expressar livremente aquilo que sentem e a ter oportunidade de empatizar com as experiências emocionais de outras pessoas. Criar este espaço, para que isto possa acontecer, é tarefa de todos os adultos que interagem com as crianças. Para tal, importa olhar para o mundo emocional das crianças com respeito e seriedade, compreender que as crianças expressam aquilo que sentem de forma tendencialmente distinta da dos adultos, recorrendo muito mais ao comportamento do que às verbalizações, e validar as suas emoções, por muito estranhas possam parecer as suas manifestações ao olhar de um adulto.

Validar aquilo que uma criança está a sentir, ajudando-a a sentir-se compreendida, é o primeiro passo para uma relação de confiança, assim como para a exploração e implementação de estratégias de regulação emocional eficazes.

 

Uma meta-análise publicada em 2020 na revista Psychological Bulletin reforça aquilo diversos estudos nos últimos anos têm evidenciado: pessoas emocionalmente inteligentes apresentam melhor desempenho nos seus trabalhos, são mais saudáveis e apresentam índices de bem-estar mais elevados. Adicionalmente, salienta que a inteligência emocional é uma competência importante a ser desenvolvida nos estudantes, enquanto promotora do seu bem-estar e sucesso futuros.

 

Ao contrário do que muitos cérebros adultos consideram, a Inteligência Emocional pode ser promovida desde o nascimento, desenvolvendo-se progressivamente a capacidade de:

- identificar e nomear emoções, em si e nos outros;

- expressar emoções de forma adequada;

- possuir e usar estratégias de regulação emocional.

 

Uma criança emocionalmente inteligente possui maior controlo sobre reações instintivas em condições de stress, sabe comunicar o seu estado emocional, desenvolve relações interpessoais satisfatórias, tem mais sucesso na escola, no trabalho e na vida.

 

Crianças emocionalmente inteligentes...

- sabem reconhecer e dar nome às suas emoções;

- reconhecem e compreendem o que os outros expressam e sentem;

- têm maior capacidade de autocontrolo – agem, não reagem;

- conseguem tranquilizar-se de forma mais autónoma;

- têm uma mentalidade de crescimento, na procura de soluções face a contrariedades;

- são mais criativas,

- relacionam-se com os outros de forma satisfatória;

- confiam mais em si próprias.

 

Para um adulto compreender e respeitar o universo emocional das crianças, promovendo a sua inteligência emocional, precisa de abraçar algumas ideias essenciais.

 

Não há emoções certas ou erradas, boas ou más, positivas ou negativas. Todas fazem parte de uma paleta de emoções que os seres humanos possuem, ajudando a dar significado às experiências de vida, não existindo forma certa ou errada de as experienciar. É muito mais eficaz olhar para as emoções como confortáveis ou desconfortáveis, agradáveis ou desafiantes, mais ou menos ativadoras.

 

Nós não somos as nossas emoções; elas não nos definem. Pode acontecer quando experienciamos uma determinada emoção de forma prolongada, começar a olhar para ela como parte da nossa identidade. Recordemos que as nossas emoções são apenas uma peça de um complexo e enorme puzzle que somos. Sentir uma emoção desagradável não significa que somos essa emoção. A subtileza na escolha das palavras que usamos, pode fazer toda a diferença. “É uma criança triste” é muito diferente de “Parece sentir-se triste com esta situação.” Acresce que sentirmos uma emoção desagradável não significa que haja algo de errado connosco ou que tenhamos feito algo de errado. Cabe aos adultos ajudarem as crianças a compreender esta importante noção.

 

Nós não nos livramos das emoções. Por vezes podemos adotar posturas e discursos (habitualmente mais críticos) que levam a criança a cair na tentação de ignorar, acumular ou esconder emoções desagradáveis. Não nos podemos forçar, ou forçar alguém, a não ter emoções, na medida em que estas são respostas a eventos, internos (como uma memória) ou externos (como algo que se experiência ou que nos acontece). Entrar num registo de evitamento apenas faz com que aquilo que se evita ainda se torne mais saliente. Aceitar que, por vezes, emoções desagradáveis vão surgir, da mesma forma que aceitamos que os dias de chuva e vento surgem, apesar de preferirmos os dias luminosos e amenos, é mais eficaz do que tentar fugir delas.

 

As nossas emoções são únicas. Todas as pessoas são capazes de experienciar as mesmas emoções, mas as pessoas podem sentir diferentes emoções em resposta às mesmas situações. E cada pessoa pode experimentar a mesma emoção de forma diferente, consoante a situação, assim como expressá-la de forma distinta. Para as crianças isto não é exceção!

 

Olhemos para as crianças e o seu universo emocional com a máxima seriedade!

 

Inês Afonso Marques

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Infantojuvenil

Direção da Oficina de Psicologia

Maio, 2023

 

 

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